Chegando pela
Península Itálica, em 1348, essa doença
afligiu tanto o corpo, quanto o imaginário
de populações inteiras que sentiam a
mudança dos tempos por meio de uma manifestação
física. Assim como a Aids, a peste negra foi
considerada por muitos um castigo divino contra os
hábitos pecaminosos da sociedade.
O contato humano com a doença desenvolve-se principalmente
pela mordida de pulgas ou pela transmissão aérea.
Em sua variação bubônica, a bactéria
cai na corrente sangüínea, ataca o sistema linfático
provocando a morte de diversas células, e cria dolorosos
inchaços entre as axilas e a virilha. Com o passar
do tempo, esses inchaços, conhecidos como bubões,
se espalham por todo corpo. Quando ataca o sistema circulatório,
o infectado tem uma expectativa de vida de aproximadamente
uma semana.
Além de atacar
o sistema linfático, essa doença também
pode atingir o homem pelas vias aéreas atacando diretamente
o sistema respiratório. Essa segunda versão
da doença, conhecida como peste pneumônica,
tem um efeito ainda mais devastador e encurta a vida do
doente em um ou dois dias. Em outros casos, a peste negra
também pode atingir o sistema sangüíneo.
Desprovida de todo esse conhecimento científico sobre
a doença, a Europa medieval explicava e tratava da
doença de formas diversas.
Desconhecendo as origens
biológicas da doença, muitos culpavam os grupos
sociais marginalizados da Baixa Idade Média por terem
trazido a doença à Europa. Alguns registros
da época acusavam os judeus, os leprosos e os estrangeiros
de terem disseminado os horrores causados pela peste negra.
No entanto, as condições de vida e higiene
nos ambientes urbanos do século XIV são apontadas
como as principais propulsoras da epidemia.
Na época, as
cidades medievais agrupavam desordenadamente uma grande
quantidade de pessoas. O lixo e o esgoto corriam a céu
aberto, atraindo insetos e roedores portadores da peste.
Os hábitos de higiene pessoal ofereciam grande risco,
pois os banhos não faziam parte da rotina das pessoas.
Além disso, os aglomerados urbanos contribuíram
enormemente para a rápida proliferação
da peste. Ao chegar a uma cidade, a doença se instalava
durante um período entre quatro e cinco meses.
Depois de diversas
vidas serem tiradas pela doença, esses centros urbanos
ficavam abandonados. Os que sobreviviam à doença
tinham que, posteriormente, enfrentar a falta de alimentos
e a crise sócio-econômica instalada no local.
Por isso, muitas cidades tentavam se precaver da epidemia
criando locais de quarentena para os infectados, impedindo
a chegada de transeuntes (pessoas que andam sem destino)
e dificultando o acesso aos perímetros urbanos. Sem
muitas opções de tratamento, os doentes se
apegavam às orações e rituais que os
salvassem da peste negra.
Estudiosos calculam
que cerca de um terço de toda população
européia teria sucumbido ao terror da peste.
Outra doença
relacionada às pulgas e que muito aterrorizou a história
humana, principalmente na segunda guerra mundial, foi o
tifo. Atingia particularmente os exércitos em campanha
e as populações prisionais.
Alguns historiadores acreditam que foi o Tifo a doença
misteriosa que atingiu Atenas no século de Péricles
(430 a.C), um evento associado ao declínio dessa
grande cidade-estado.
Uma das epidemias mais importantes foi aquela que atingiu
Napoleão Bonaparte e a sua Grande Armée na
sua campanha de invasão da Rússia, em 1812.
Durante a retirada das suas tropas após a destruição
de Moscou pelos russos, as tropas de Napoleão foram
reduzidas de 600.000 a 40.000 mais devido ao Tifo e ao frio
que às tropas inimigas.
As medidas higiênicas
militares, hoje parte importante da disciplina de todos
os exércitos, foram introduzidas pelos franceses
em reação à mortalidade pelo Tifo.
A obrigatoriedade de raspar a barba e cortar o cabelo rente
foi uma medida inicialmente usada nos soldados e visava
erradicar as pulgas transportadoras da infecção.
Antes de se descobrir que a higiene e a limpeza das roupas
reduziam as mortes por tifo, a higiene não era grande
preocupação para os oficiais. Devido a estas
medidas, durante a primeira guerra mundial na frente ocidental
quase não houve mortes por Tifo, enquanto na frente
oriental, após a quebra de autoridade que se seguiu
à Revolução de Outubro na Rússia
Czarista, três milhões de pessoas morreram
da doença.
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